Estudos publicados nos últimos 20 anos mostram que as mulheres que praticam corrida de ruanão apenas estão se lesionando, mas que isso acontece em taxas absurdamente maiores do que os homens. Para a corrida de rua, esta proporção de lesão no joelho extrapola o índice de um homem para sete mulheres lesionadas para a mesma intensidade e volume dos treinos.
Mas, por que isso ocorreria? Seria o uso do salto alto, força muscular reduzida? Anatomia? Por que o joelho da mulher é mais suscetível a lesões? Autores que estudam a mulher corredora afirmam que as atletas exibiriam um tempo de recrutamento de grupos musculares mais prolongado que os observados em homens e que isso poderia afetar a dinâmica de diversas articulações, principalmente do joelho.
De maneira mais didática, isso significa que, em uma aterrisagem do vôlei, por exemplo, o “comando” vindo do cérebro para que a musculatura se contraia de maneira adequada chega “atrasado” em alguns músculos, principalmente nos glúteos médio e mínimo no quadril (músculos estabilizadores da pelve) e no vasto medial (músculo interno da coxa). Isso faz com que o fémur “rode para dentro” e deixe a patela mais lateralizada e em contato reduzido das superfícies articulares.
Quanto menor a área de contato, maior a pressão e, consequentemente, maior a chance de lesão crónica de tecidos, em especial a cartilagem patelar. Nos últimos cinco anos, alguns autores provaram existir o valgo dinâmico através do exame chamado eletromiografia e da ressonância magnética dinâmica (em movimento). Ele postulam que o problema das mulheres corredoras é na verdade funcional e nao só anatómico, como se pensava 30 anos atrás.
Isso significa que a cada passo da corrida, a mulher estaria sujeita ao valgo dinâmico? Sim. A fase inicial da corrida é chamada de absorção de impacto, no qual a energia cinética do contato do pé ao solo é absorvida através da contração muscular e da flexão do joelho. Havendo o valgo dinâmico, existiria um micro-trauma de repetição que, a médio e longo prazo, desenvolveriam sintomas como a dor, desconforto e inchaço no joelho.
Condromalácea
A condromalácia patelar (também conhecida como síndrome da dor patelo-femoral, ou "joelho de corredor") consiste em uma doença degenerativa da cartilagem articular da superfície posterior da patela.
O termo vem do latim e significa, em sua essência, “amolecimento da cartilagem”. Muito comentada e estudada desde o início dos anos 90 com o advento da Ressonância Nuclear Magnetica como ferramenta diagnostica de lesões no joelho.
Dentre o rol de doenças do joelho da mulher corredora, esta estaria intimamente ligada ao valgo dinâmico e, infelizmente, tratada de maneira incorreta em muitos casos.
Acredita-se que a doença desenvolva-se a partir do contato excessivo da cartilagem da rótula que estaria lateralizada em relaçao ao seu “trilho”, a tróclea femoral. A distribuição desigual dos pontos de pressão causaria, em longo prazo, morte celular e desarranjo da matriz extra-celular, com consequentes sintomas de dor, creptação ou sensação semelhante a “areia” dentro do joelho, estalos e, às vezes, falseios. No início, a lesão dá-se por amolecimento da cartilagem. A seguir, podem haver ulcerações, fissuras, terminando com o desgaste de toda sua espessura, evoluindo,assim como qualquer lesão cartilaginosa, para a osteoartrose.
Os graus
Segundo a classificação descrita por Outerbridge (1961), existem 4 níveis de condromalácia patelar, de acordo com o estágio de deterioração da cartilagem.
1 - amolecimento da cartilagem e edemas. Este estagio é considerado como normal por quase todos os autores e estaria presente em quase toda a população acima de 20 anos de idade.
2 - fragmentação de cartilagem ou fissuras com diâmetro < 1,3cm de diâmetro
3 - fragmentação ou fissuras com diâmetro > 1,3cm
4 - erosão ou perda completa da cartilagem articular, com exposição do osso subcondral
O que se sente?
Os principais sintomas são: dor profunda no joelho, as vezes irradiada para a região posterior, desencadeada na corrida e, posteriormente, ao subir e descer escadas, ao levantar-se de uma cadeira, muitas vezes restringindo para atividades da vida diária.
Crepitação e estalos, muitas vezes audíveis sao comuns. Quando existe o acumulo de líquido dentro do joelho, conhecido popularmente como “água no joelho”, indica agravo da doença com uma complicação comum denominada sinovite, uma reação inflamatória da membrana sinovial que reveste o joelho.
Como se trata?
O tratamento fundamenta-se na detecção da presença valgo dinâmico e de desequlibrios musculares através do exame físico minucioso, com atenção especial para a musculatura do quadril feminino, observando-se a postura adotada no movimento de descida, detecção de pisada muito pronada pelo teste de baro-podometria e avaliação do equilíbrio muscular entre musculatura anterior da coxa (extensores do joelho) e posterior (flexores), através do teste de força ou avaliação isocinetica.
A reabilitação envolve recursos antiinflamatorios iniciais como o laser e o ultrassom, seguidos da ativação de grupos musculares enfraquecidos, muitas vezes com auxilio da eletroterapia (correntes russa ou australiana), seguida do fortalecimento e aumento do tempo de ativação de grupos musculares através dos treinos proprioceptivos e pliométricos.
Muitas vezes, o uso do salto alto deve ser reduzido por determinado período e pisadas muitopronadas ou muito supinadas também devem ser tratadas.
Tratamento
O tratamento cirúrgico da condromalácia patelar nunca deve ser a primeira opção no tratamento da doença e se reserva aos casos de quem não melhorara com a reabilitação bem feita, com defeito cartilaginoso de graus 3 ou 4 e com encurtamento crônico da retinacula lateral (tecido que segura a patela na região externa).
Nestes casos, através da artroscopia do joelho pode se realizar a regularização da cartilagem lesada, retirada de corpos livres e a soltura da retinacula encurtada, procedimento chamado de “release lateral”. Terapias adjuvantes como a aplicação intra-articular de acido hialurônico no período pós-operatorio auxilia no tratamento e previne a recidiva de sintomas.
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Fonte: http://www.fisioterapia.com/noticias/imprimir/1855 |
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