Tão importante quanto treinar é recuperar os músculos. Descanso, alongamento e sono são algumas medidas que potencializam o processo
Os ganhos de massa muscular só ocorrem durante o período de recuperação (Thinkstock/VEJA)
A recuperação dos músculos após a atividade física é tão importante quanto a prática do exercício em si, já que ela diminui as dores e a fadiga no dia seguinte à prática, melhora o desempenho nos próximos treinos e aumenta a massa muscular. "Durante o exercício, não há nenhum beneficio ao corpo. É na recuperação que isso acontece", diz o fisiologista Turíbio de Leite Barros, diretor técnico da Physio Institute, em São Paulo.
Existem duas etapas para a recuperação muscular: a que repõe o estoque de energia que o músculo utilizou durante o exercício e a que restaura as lesões provocadas pela atividade física na musculatura.
Carboidrato — A primeira etapa consiste em repor a energia que o músculo gastou durante o exercício. Isso é feito por meio da ingestão de carboidrato, absorvido pelas células em forma de glicogênio. Para acelerar esse processo, o ideal é fazer um pequeno lanche até 30 minutos após o término do exercício físico, porque é nesse período em que as células conseguem captar mais glicose e de forma mais rápida. "Ingerir algum carboidrato de simples digestão, como um suco de frutas, logo após a atividade ajuda na recuperação do músculo", diz Turíbio de Leite Barros. Depois de 30 minutos, o corpo continua a estocar glicogênio, porém, mais lentamente.
Devolver energia aos músculos é importante principalmente para os praticantes de atividades aeróbicas, como a corrida, já que nesses exercícios há mais gasto energético do que sobrecarga muscular. "Quanto maior a duração do treino, mais glicogênio o corpo vai utilizar", diz o educador físico Rafael Baptista, professor da faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Normalmente, a reposição de energia nas células musculares leva entre 12 e 24 horas para acontecer.
Regeneração — A segunda etapa de recuperação é essencial para que a musculatura aumente. Um exercício de força provoca pequenas lesões no músculo, que são "curadas" pelas proteínas sintetizadas por células do tecido muscular durante a atividade física. Essa regeneração é o que leva ao aumento da massa muscular. Mas, para o músculo se recuperar completamente, ele deve descansar por 48 horas. Por isso, não é recomendável exercitar o mesmo grupo muscular dois dias seguidos.
Se essas duas etapas de recuperação dos músculos não forem seguidas corretamente, há risco de dores no dia seguinte à atividade física, de lesões, fadiga, perda de flexibilidade e prejuízos ao desempenho nos exercícios.
Dicas para melhorar a recuperação muscular
Consuma carboidrato logo após o exercício
O carboidrato, em forma de glicogênio, é responsável por fornecer energia ao músculo. Durante o exercício físico, principalmente os aeróbicos, como a corrida, os estoques dessa substância praticamente se esgotam e precisam ser repostos. Para que isso aconteça, o ideal é consumir alguma fonte de energia rápida, como um suco de fruta, até 30 minutos depois do treino. "Durante esse tempo, as células dos músculos têm maior permeabilidade e conseguem captar glicose de forma mais veloz", diz o fisiologista Turíbio Leite de Barros, diretor técnico da Physio Institute, em São Paulo.
Faça uso da crioterapia
Após a atividade física, as membranas que revestem as células musculares se danificam. Com isso, o líquido que se encontra dentro da célula entra em contato com o músculo e faz com que ele fique inchado depois do exercício. A crioterapia é uma técnica que ajuda a recuperar o músculo, a regenerar a célula e a eliminar esse líquido. O método consiste na imersão de uma parte do corpo em um balde ou banheira cheia de gelo logo após o exercício, por 10 a 20 minutos. Durante 10 minutos de imersão no gelo, os vasos sanguíneos se contraem. Depois desse período, a circulação sanguínea na região aumenta e a musculatura relaxa. Isso diminui a inflamação muscular e, consequentemente, dores na região horas depois da atividade física.
Pratique exercícios leves após os intensos
No dia seguinte à pratica de algum exercício intenso, é recomendável realizar alguma atividade mais moderada, como uma caminhada ou até hidromassagem, para ajudar na recuperação da musculatura. Essas atividades mais leves ajudam a recuperar e a relaxar a musculatura, já que dissipam e neutralizam o ácido láctico, substância produzida durante grandes esforços físicos e uma das causadoras das dores musculares.
Faça massagem
A massagem ativa a circulação sanguínea no músculo e ajuda o tecido muscular a relaxar, segundo Rafael Baptista, professor da faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Por isso, recorrer à massoterapia até o dia seguinte do treinamento pode ajudar a diminuir as fadigas musculares e a recuperar os danos que os exercícios provocam nos músculos.
Dê descanso ao músculo
O músculo precisa de pelo menos 24 horas para recuperar a energia. Além disso, esse intervalo faz com que a reparação do tecido ocorra, processo que promove os verdadeiros ganhos da atividade física: o aumento da massa muscular. "Caso a pessoa faça um estímulo no músculo que está em recuperação, ela pode sofrer distensões musculares", diz Paulo Correia, fisiologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Durma oito horas por noite
O sono é o momento em que o corpo gasta menos energia e, por isso, consegue regenerar a musculatura. Sem o sono adequado, de no mínimo oito horas por noite, praticamente não há benefícios dos exercícios. "É durante o sono REM, aquele em que mais se descansa, que hormônios do crescimento muscular são sintetizados", explica Paulo Correia. Um exemplo é o hormônio GH, essencial para a regeneração do músculo.
Alongue-se
O alongamento alivia a dor muscular ocasionada pelo exercício físico. "O método ajuda a relaxar o músculo e a melhorar a irrigação dos vasos sanguíneos na região, que passa a receber mais nutrientes, melhorando o processo de regeneração muscular", diz o professor Rafael Baptista. O ideal é alongar-se no dia seguinte do treinamento. A amplitude do movimento não pode ser muito grande, para não machucar ainda mais o músculo. Deve-se permanecer em cada posição durante 30 segundos.
Tome BCAA
O BCAA é a sigla em inglês para aminoácidos em cadeia ramificada. Ele é composto por moléculas formadas por três aminoácidos intensamente processados pelos músculos: leucina, isoleucina e valina. Essas substâncias ajudam a reparar o dano muscular que o exercício de força provoca. Na prática, ajudam a diminuir a dor no dia seguinte da atividade e a encurtar o tempo da recuperação entre um treino e outro. Antes de recorrer ao BCAA, é recomendável consultar um nutricionista. "Ele saberá dizer se o paciente realmente precisa do suplementação e em que dosagem", afirma Rafael Baptista.
Fontes: Rafael Baptista, professor da faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS); Paulo Correia, fisiologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); Turíbio de Leite Barros, fisiologista e diretor técnico da Physio Institute, em São Paulo.
O derrame cerebral é a principal causa de morte no Brasil. A boa notícia é que até 90% dos fatores de risco da doença podem ser prevenidos
AVC: moléstia mata 70 000 brasileiros por ano (Hemera Technologies/Thinkstock/VEJA)
Cerca de 70.000 brasileiros morrem por ano vítimas de acidente vascular cerebral (AVC). Trata-se da principal causa de morte no país, tanto entre homens quanto entre mulheres, segundo o Ministério da Saúde.
A doença é caracterizada pela falta de irrigação sanguínea numa parte do cérebro. Sem sangue, os neurônios presentes na região afetada não têm acesso a nutrientes e ao oxigênio — e podem morrer. "A gravidade do AVC depende da localização e do tamanho da área afetada. Isso explica por que a doença causa desde sintomas leves até sequelas definitivas ou óbito", diz Caio Focássio, cirurgião vascular da Santa Casa de São Paulo.
O derrame costuma ser de dois tipos: isquêmico, correspondente a cerca de 80% dos casos, e hemorrágico, responsável por aproximadamente 20% deles. No caso do AVC isquêmico, ou AVC I, o agente é um coágulo, que, oriundo de diferentes causas (como trombose, hipertensão e colesterol alto), obstrui um vaso que leva o sangue do coração para o cérebro — uma artéria. Já o AVC hemorrágico, ou AVC H, ocorre quando alguma artéria se rompe, desencadeando uma hemorragia cerebral.
Sintomas — Nas duas versões, os sintomas são os mesmos: dificuldade para falar, dormência de um lado do corpo, fraqueza, visão dupla e desequilíbrio. Diante desses sinais, é preciso levar o paciente ao pronto-socorro o mais rápido possível. No hospital, a pessoa será submetida a exames de imagem — ressonância ou tomografia — para diagnosticar o tipo do derrame. No caso do isquêmico, o procedimento de desbloqueio da passagem sanguínea, chamado trombólise, pode ser feito, em média, até quatro horas depois do acidente. Já o hemorrágico, mais difícil de ser tratado, requer, a depender da gravidade, uma operação para drenar o hematoma.
Fatores de risco — Segundo o estudo internacional Interstroke, realizado em 22 países, entre eles o Brasil, e publicado em 2010, 90% dos casos são associados a fatores de risco evitáveis. São eles: hipertensão, diabetes, sedentarismo, colesterol alto, obesidade, tabagismo, abuso de álcool, problemas cardiovasculares e dietas ricas em gordura e em sal. Os outros 10% podem estar relacionados à genética, idade (segundo a Associação Americana de AVC, a probabilidade de uma pessoa ter um derrame dobra a cada década depois dos 55 anos) e etnia (negros e orientais são mais predispostos à hipertensão, o que facilita o AVC).
Há pouca diferença entre os fatores de risco relacionados ao sexo. "Se a mulher não é tabagista, usuária de anticoncepcionais e vítima de enxaquecas com aura, seu risco não é mais elevado que o do homem", diz Antonio Cezar Galvão, neurologista do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, em São Paulo.
A incidência da doença, porém, muda de acordo com o avanço da idade. "O AVC é um pouco mais prevalente em homens até os 75 anos. Como as mulheres vivem mais que os homens, e a idade é um fator de risco para a doença, elas apresentam uma probabilidade mais elevada de ter derrame", explica Adriana Conforto, neurologista chefe do Grupo de Doenças Cerebrovasculares do Hospital das Clínicas, em São Paulo. O AVC afeta uma em cada cinco mulheres e um em cada seis homens.
Como evitar o derrame
Controlar a hipertensão
A hipertensão é a principal desencadeadora do AVC, isquêmico ou hemorrágico. Ela pode causar lesões nas paredes internas das artérias, tornando-as menos elásticas e mais predispostas a entupimento e endurecimento. "O tratamento da hipertensão, feito por meio de medicamentos, dieta e prática de atividade física, diminui em 90% o risco de um derrame em hipertensos", afirma Adriana Conforto, neurologista chefe do Grupo de Doenças Cerebrovasculares do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Segundo ela, um estudo feito no Hospital das Clínicas de São Paulo mostrou que 80,5% dos pacientes admitidos por AVC isquêmico no pronto-socorro apresentavam antecedente de hipertensão arterial.
Exercitar-se
A prática de atividades físicas pode ajudar no controle do peso, na saúde do coração e na redução do risco de diabetes, hipertensão arterial e formação de coágulos sanguíneos — condições que podem levar ao derrame. Assim, exercitar-se melhora diversos fatores que aumentam o risco de AVC
Monitorar o peso
A obesidade e o sobrepeso podem desencadear hipertensão e diabetes, fatores de risco do AVC. "Quem está acima do peso tem maior probabilidade de sofrer um derrame", diz Antonio Cezar Galvão, neurologista do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, em São Paulo.
O cálculo do índice de massa corpórea (IMC), medida que relaciona altura, peso e nível de gordura, ajuda a determinar se o indivíduo está com o peso ideal.
Reduzir o colesterol
Altos níveis de LDL (conhecido como colesterol "ruim") no sangue favorecem a aterosclerose, que se caracteriza pela formação de placas de gordura nas paredes das artérias. A doença estreita e enrijece esses vasos e dificulta o fluxo sanguíneo. A lesão na parede das artérias pode, ainda, levar à formação de coágulos e, logo, ao AVC isquêmico. Uma dieta saudável e pobre em gorduras saturadas e trans ajuda a proteger a saúde cardiovascular.
Tratar o diabetes
O diabetes é o segundo principal fator de risco do AVC, por piorar a hipertensão arterial e contribuir na formação da aterosclerose. "O diabetes enrijece a parede arterial, que favorece o acúmulo de gordura no vaso, aumenta os níveis de insulina no sangue e altera o sistema circulatório e metabólico", diz Caio Focássio, cirurgião vascular da Santa Casa de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. Esse cenário facilita o surgimento de coágulos, que podem chegar ao cérebro, obstruir uma artéria e, assim, levar ao AVC isquêmico.
Seguir uma dieta balanceada
Alimentar-se bem é crucial para controlar o peso, a hipertensão, o diabetes e o colesterol. De acordo com Adriana Conforto, os três principais mandamentos de uma dieta anti-AVC são ingerir sal moderadamente (isto é, consumir no máximo 3 colheres [café] rasas por dia), comer oito a dez porções de frutas, verduras e legumes diariamente e, por fim, manter distância de alimentos gordurosos, principalmente aqueles com altos níveis de gorduras saturadas — como frituras e manteiga.
Ter uma gravidez saudável
A pré-eclâmpsia, doença que atinge entre 6 e 10% das gestantes, aumenta a pressão arterial e causa uma perda de proteínas pela urina na fase final da gravidez. Segundo a Associação Americana do Coração, mulheres com pré-eclâmpsia têm duas vezes mais probabilidade de sofrer um derrame — condição que, por sua vez, atinge três em cada 10 000 grávidas. A recomendação geral é que mulheres enquadradas no grupo de risco (aquelas com hipertensão crônica, diabetes e obesidade, por exemplo) tomem doses baixas de aspirina a partir do segundo trimestre de gestação. O médico decidirá o melhor para cada caso.
Manter a saúde cardíaca em dia
Doenças cardíacas podem formar coágulos no sangue e levar ao AVC isquêmico. São exemplos de moléstias relacionadas ao derrame a fibrilação atrial crônica, que é quando o coração bate num ritmo anormal e irregular, e a trombose coronariana, na qual uma artéria é bloqueada por um coágulo. A fibrilação atrial costuma ser controlada com medicamentos anticoagulantes e a trombose coronariana, popularmente conhecida como infarto do miocárdio, com antiagregantes. "Sobreviventes de um infarto do miocárdio podem ter mais placas de gordura pelo corpo, que levam aos coágulos. Esses trombos podem causar tanto um novo infarto, quanto um AVC. A diferença entre os dois é a localização da obstrução arterial", explica Álvaro Pentagna, neurologista do hospital São Luiz Itaim, em São Paulo.
Não fumar
Substâncias presentes no cigarro, como a nicotina, favorecem a degradação da parede arterial e, por isso, a formação de placas de gordura aderidas nos vasos. "Além disso, o cigarro tem componentes que promovem a coagulação, facilitando a formação de trombos e, consequentemente, do derrame", explica o cirurgião vascular Caio Focássio.
Beber álcool com moderação
O consumo exagerado de álcool faz com que o organismo desenvolva distúrbios de coagulação, como a aterosclerose, atrapalhando a circulação sanguínea. "Beber muito álcool favorece hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e transtornos metabólicos que comprometem a circulação sanguínea cerebral, predispondo ao AVC", diz a médica Elizabeth Batista, coordenadora de neurologia do hospital Barra D'Or, no Rio de Janeiro.
A neurologista Adriana Conforto recomenda a dose máxima de álcool diária de 30 gramas para o homem (equivalente a duas latas de cerveja ou duas taças de vinho de 150 ml ou duas doses de uísque de 50ml) e 15 gramas para a mulher (metade dessas doses).
Ficar atenta à combinação entre anticoncepcional e enxaqueca com aura
O estrogênio, hormônio presente na pílula, estimula a formação de placas nas paredes dos vasos sanguíneos. Apenas o uso do anticoncepcional, porém, não eleva significativamente o risco do derrame. "Quando a mulher já tem um histórico de enxaquecas com aura, aquela que prejudica a visão nas crises, e toma anticoncepcional, precisa ficar atenta ao risco de AVC. Essas duas situações elevam a probabilidade de formação de coágulos", explica o neurologista Álvaro Pentagna.
Fontes: Adriana Conforto, neurologista chefe do Grupo de Doenças Cerebrovasculares do Hospital das Clínicas, em São Paulo; Álvaro Pentagna, neurologista do Hospital São Luiz Itaim, em São Paulo; Antonio Cezar Galvão, neurologista do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, em São Paulo; Caio Focássio, cirurgião vascular da Santa Casa de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular; Elizabeth Batista, neurologista coordenadora de neurologia do hospital Barra D'Or, no Rio de Janeiro.
Todas essas atividades também têm o objetivo de promover uma melhora geral no seu corpo. No entanto, é importante você ter tempo de descansar
A musculação não deve ser encarada como uma atividade indispensável para os corredores. Ela tem a sua importância e, dependendo do seu objetivo, pode ser uma grande aliada para você encarar os seus desafios. Mas você pode não gostar de malhar e preferir fazer uma outra atividade complementar ou pode não ter tempo para nada disso, é corrida e olhe lá. Mas fique tranquilo, não malhar não significa que você vai se machucar. Se você consegue fazer musculação de forma regular, seus músculos tendem a ficar mais resistentes e, com isso, se o seu negócio édesempenho e velocidade, você talvez passe a ter a capacidade de tolerar um treinamentomais intenso, e se consegue treinar mais forte, talvez possa alcançar metas mais difíceis.
Atividades complementares, como a musculação, deixam músculos mais resistentes (Foto: Getty Images)
Se você não curte malhar e prefere fazer apenas outra atividade complementar à corrida, não tem problema, pode fazer. Atualmente o corredor tem várias opções, como por exemplo o Pilates, que veio pra ficar e desenvolve um belo trabalho de alongamento e força; os sistemas de treinamento funcional estão avançando e se solidificando (com vários exercícios interessantes para os corredores); os treinos na areia, com movimentos de saltos, zigue-zagues, agachamentos e piques; ou mesmo um ou outro exercício simples de agachamento ou com uso de elásticos em casa mesmo. Todas essas atividades também têm o objetivo de promover uma melhora geral no seu corpo.
Entretanto, tenha a sensibilidade de identificar o quanto de musculação ou dessas outras atividades faz bem para você. É importante ter tempo pra descansar desses treinos e cuidados para se alimentar de forma ainda mais criteriosa. Treinar musculação demais, por exemplo, pode atrapalhar o período de descanso da corrida e, com isso, uma atividade que teria vindo para somar no ganho de condicionamento pode atrapalhar o seu desempenho nas corridas.
Talvez a maior causa dos machucados nos corredores seja o excesso de treinos, não a falta de musculação ou algo complementar."
Gustavo Luz
Mas se você não gosta de musculação ou não consegue nada além do tempo pra treinar corrida? Relaxe, existem coisas na sua vida que podem não mudar, e pode ser que você tenha que correr pelo resto da vida sem malhar. Talvez a maior causa dos machucados nos corredores seja oexcesso de treinos, não a falta de musculação ou algo complementar. E se você já sabe que a sua realidade é essa, de uma maneira geral, pegue mais leve nos treinos, faça as progressões de volume e de intensidade com mais cuidado, talvez valha a pena fazer algumascaminhadas no seu longão ou diminuir a intensidade daquele treino intervalado que te deixa exausto no final.
Fique atento ao equilíbrio entre as práticas esportivas e as coisas que você faz durante o dia. Se em um dia chegar mais cansado do trabalho, malhe mais leve ou faça um pouco menos da aula de Pilates. Não force a barra para fazer as atividades complementares se estiver com sono ou muito dolorido de um treino de corrida. Nesse caso, talvez seja melhor trocar o uma hora de treino por uma hora de sono. Se você souber dosar e administrar todos os seus dias, vai tirar o melhor proveito das atividades fora da corrida e continuará sem se machucar.
* As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do Globoesporte.com / EuAtleta.com.
Se está sedentário há e acima do peso, mas determinado a se esforçar nos treinos e na alimentação, você pode eliminar 15, 30 ou mais quilos
Muita coisa! Na verdade, dá tempo de mudar de vida e até ousar algumas metas mais ambiciosas. Mas tudo depende de como está o seu condicionamento atual. Se está sedentário há muito tempo e bem acima do peso, mas determinado a se esforçar nos treinos e na alimentação, você pode eliminar 15, 30 ou mais quilos.
Tenho um aluno/amigo chamado Renato que completou o Ironman (aquele triatlo dificílimo que acaba com uma maratona) de Florianópolis em maio de 2014, e isso foi incrível. Por que? Bom, primeiramente, por que qualquer pessoa que completa uma prova dura dessa merece muito reconhecimento e, além disso, Renato estava com 135kg um ano antes, em maio de 2013, vindo de 20 anos de sedentarismo (mas fora um excelente nadador nos idos anos 90).
Em dois anos, os treinos podem fazer você perder peso e ganhar saúde e bem-estar (Foto: Getty Images)
Como deu certo? Não tinha desculpinha, o cara viu que o desafio era enorme, treinava na chuva, no vento, no frio, sozinho - sabia ouvir os mais experientes e em um ano se transformou em um atleta amador de 95kg. Quarenta quilos em um ano, outra vida. Não teve mágica, teve esforço, muito. E, provavelmente, foi a maior mudança de vida que eu acompanhei até hoje, não só pelos quilos deixados no caminho,mas pela dificuldade da prova.
Você não precisa ser um Renato, mas com segurança, em dois anos, é possível deixar o sedentarismo para trás e completar provas de 5 ou 10km. Alguns talvez consigam até uma meia maratona. Mas se estiver bem acima do peso, invista em um período de caminhada antes de começar a correr. Elas vão fortalecendo seus músculos, tendões e articulações enquanto você vai ganhando o hábito de sair de casa para treinar. Pode ser que dois anos sejam suficientes para deixá-lo pronto para uma meia maratona, mas foque primeiramente em perder peso e ganhar condicionamento e experiência em provas mais curtas.
Se está sedentário há pouco tempo e não está acima do peso (ou ligeiramente acima), dois anos podem fazer com que você corra boas provas. Nesse primeiro momento, também é importante ter calma aqui, para ganhar condicionamento aos poucos, não apressar as coisas e se machucar. Mas por não estar acima do peso, talvez você consiga se desenvolver um pouco mais e obter bons resultados pessoais em provas mais curtas ou completar um ciclo de treinos para uma maratona.
Independente do seu objetivo e do grau de condicionamento, dois anos de treinos bem orientados podem fazer você virar outra pessoa. Acredite em você e se dê essa chance, como em todas as outras áreas da vida, quanto mais energia depositar nesse processo, maior a sua chance de se dar bem de verdade. Então, o que está esperando para começar?E se você corre há algum tempo e já participou de provas de diferentes distâncias, percebeu que os anos de corrida trazem sapiência. E, nesse esporte, experiência adquirida conta muito, em dois anos você já começa a entender os diferentes tipos de treinos e os seus objetivos. Mas, por outro lado, são apenas dois anos - talvez por isso você olhe para o corredor do lado e se pergunte como ele consegue aquele tempo tão rápido em uma determinada prova. Tem gente que treina há 10, 20 ou mesmo 30 anos (e até mais) e, com isso, acaba adquirindo uma base de treino muito boa e precisa treinar menos do que você para conseguir aquele mesmo resultado. Isso é normal e se chama "lastro fisiológico". Em outras palavras, sua história como corredor.
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Baixo teor de gordura e grande quantidade de fibras e de vitaminas ajudam no controle da compulsão por doces e reduzem os níveis do colesterol ruim
Na busca de um corpo ideal e por mais saúde, sempre estamos descobrindo novos alimentos que possam auxiliar a alcançar os nossos objetivos. Embora todas as frutas, verduras e legumescontribuam para uma alimentação saudável, existem alguns vegetais que desempenham algum benefício a mais no nosso organismo, entre eles está a berinjela. A berinjela é um dos alimentos mais utilizados em dietas de emagrecimento e vem cada vez mais ocupando o seu espaço. Não é um vegetal muito apreciado pela maioria, logo para aumentar o seu consumo e se beneficiar dos seus efeitos positivos, surgiu então a farinha de berinjela. Lembrando que a verdadeira farinha ainda se mantém com o sabor bem característico da berinjela.
Farinha da berinjela auxilia na saúde e ainda tem benefícios estéticos (Foto: Getty Images)
Por ser uma excelente fonte de fibras e com baixo teor de gordura, estudos vem comprovando que a farinha obtida através da berinjela, promove saciedade, diminuindo o apetite e consequentemente auxiliando a perda de peso. Reduz também a gordura corporal, ou seja, pela alta quantidade de fibras presente, promove uma absorção mais lenta de glicose, não estimulando então o hormônio responsável por transportar esse nutriente para dentro das células (insulina), evitando o aumento do acúmulo de gordura corporal. Com menos picos glicêmicos, a farinha de berinjela controla também a compulsão por doces, ou seja, esses picos de glicemia provocam automaticamente uma queda brusca da glicemia, levando a uma maior necessidade de reposição deste nutriente através de açúcares. Além disso, a insulina em excesso torna o triptofano mais facilmente absorvido pelo cérebro, levando a uma maior sensação de bem estar, por ele ser precursor da serotonina. No entanto, quando a dose está muito alta, o corpo começa a "pedir" por mais fontes deste aminoácido, como o chocolate (não é um vilão, desde que consumido na versão meio amarga e em baixas quantidades). De qualquer maneira, o resultado é o mesmo, ou seja, quanto maior a produção de insulina, maior o aumento do acúmulo de gordura no tecido adiposo e como consequência, mais quilos extras.
No processamento da farinha da casca da berinjela, mantemos as boas concentrações devitaminas A e C. Essas vitaminas tem importante ação antioxidante, protegendo o nosso organismo dos efeitos provocados pela ação dos radicais livres. A farinha deste vegetal não só traz benefícios estéticos, como também colabora com a manutenção da saúde, diminuindo os níveis doLDL colesterol (colesterol ruim).
Pela grande presença de fibras, a farinha de berinjela aumenta o trânsito intestinal, eliminando então os ácidos biliares pelas fezes. Esses ácidos biliares são formados por moléculas de colesterol, ou seja, quanto menos ácidos biliares, mais colesterol é utilizado para formar esses ácidos, reduzindo então a concentração deste mesmo colesterol. Melhora também o funcionamento do intestino, pois o mesmo gel formado pelas fibras também ajudam o bolo alimentar a transitar melhor, aprimorando o transito intestinal. Além disso, a farinha de berinjela têm ação prebiótica, onde as fibras sofrem fermentação no intestino grosso, que é realizada por bactérias benignas, estimulando o crescimento da microbiota intestinal, com isso levando a um intestino mais saudável. Melhora a função renal, pois tem potente ação diurética.
A berinjela apresenta ainda uma grande gama de flavonóides. Esses flavonóides permanecem na berinjela mesmo sob a forma de farinha, prevenindo o acúmulo de gordura nas artérias, reduzindo as doenças cardiovasculares.
A quantidade recomendada varia entre uma a quatro colheres de sopa ao dia. O ideal é fazer uso da farinha de berinjela com orientação de um nutricionista para adequar as quantidades e as refeições que podem ser acrescidas desse alimento. O consumo de 1,5 a 2 litros de água por dia quando se ingere essa farinha é altamente recomendado. Pela grande presença de fibras, existe a necessidade de muito líquido para não causar constipação intestinal. A farinha de berinjela já preparada é fácil de ser encontrada em mercados naturais, porém também é possível fazer essa farinha em casa. Por ser um vegetal rico em água, 1kg rende aproximadamente 100 g da farinha.
Como preparar a farinha de berinjela: Rendimento: 100g
1 - Lave 1 kg de berinjela com casca; 2 - Corte em fatias e arrume em uma forma ou tabuleiro; 3 - Leve ao forno até que fique ressecada; 4 - Retire e triture no liquidificador ou processador até virar a consistência de pó; 5 - Guarde em local fresco ou na geladeira em recipiente com tampa;
Lembrando que para gerar um efeito de emagrecimento ou somente perda de gordura localizada, a suplementação com farinha de berinjela ou qualquer outro alimento com boa fonte de fibras, deve estar associada a uma dieta com orientação e prática de atividade física.
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Por Natália de OliveiraRio de Janeiro FONTE: http://globoesporte.globo.com/
Entende-se por traumatismo raquimedular (TRM) lesão de qualquer causa externa na coluna vertebral, incluindo ou não a medula ou as raízes nervosas, em qualquer dos seus segmentos (cervical, dorsal, lombossacro). Frequentemente está associado a trauma cranioencefálico ou politrauma.
As emergências relacionadas com lesões traumáticas da medula espinal e da coluna vertebral necessitam de grande atenção diante do drástico quadro clínico acompanhado de suas repercussões sociais e econômicas geradas para o paciente e para a sociedade. Essas lesões devem ser reconhecidas precocemente para que o diagnóstico possa ser imediatamente confirmado e o seu tratamento instituído, evitando que a perda de função se torne permanente. Os dados mais importantes para a suspeição de uma emergência raquimedular vêm da história e do exame clínico. O plantonista deve estar atento para os “sinais de alerta” fornecidos pela história e pelo exame clínico, os quais contribuem para o diagnóstico de uma doença emergencial subjacente.
Os exames laboratoriais e radiológicos simples podem contribuir. A tomografia computadorizada e a ressonância magnética da coluna vertebral podem definir a anatomia, apresentando, contudo, elevados custos e altos índices de exames falso-positivos. Nos casos complexos e duvidosos, o paciente deve ser encaminhado para um serviço com neurocirurgião ou ortopedista especializado em doenças da coluna vertebral. Neste capítulo discutimos a conduta em pacientes com TRM desde a cena do acidente, assim como os mecanismos de trauma, o atendimento especializado e as principais síndromes clínicas.
EPIDEMIOLOGIA
A epidemiologia da lesão medular vem sendo exaustivamente estudada nas últimas três décadas. De acordo com levantamento nacional realizado pelo autor, as fraturas da coluna vertebral são diagnósticos frequentes na maioria dos serviços de emergência. Ocorrem aproximadamente 60 a 70 casos para cada 100 mil habitantes por ano e 10% desses pacientes apresentam déficit neurológico.
Referente à lesão medular, estima-se em mais de 11 mil vítimas anualmente, acometendo nove homens para cada mulher. A média de idade das vítimas é de 30,4 ± 15,5 anos. O coeficiente de incidência de lesão medular no Brasil é de 71 novos casos por milhão de habitantes. A região Nordeste apresentou uma incidência de 91 casos, seguida pela Centro-oeste com 79 casos e a Sudeste com 71 registrados. As regiões Norte e Sul apresentam as mais baixas incidências, com 49 e 38 casos por milhão, respectivamente.Em cada região, as causas mais frequentes são os acidentes de trânsitos, seguidos de mergulhos, quedas e perfurações por arma de fogo.
Os custos com a lesão medular são altíssimos. Isso se deve ao alto grau de sequela neurológica e também psicológica em pacientes que ainda estão em idade profissional produtiva. Estima-se que o custo de um paciente tetraplégico, ao longo do resto de sua vida, possa chegar a meio milhão de dólares.
ACHADOS CLÍNICOS
O mecanismo dessas lesões em sua maioria é a fratura ou a fratura e luxação. Metade das lesões ocorre na coluna cervical, um sexto na região torácica e um terço na região lombossacra. O trauma é a causa mais comum da síndrome de transecção da medula espinal. Uma hemissecção da medula (síndrome de Brown-Sequard) é rara e normalmente associada à lesão penetrante por projétil ou faca (Tabelas 1 e 2).
Tabela 1: Síndromes clínicas no TRM
Síndrome centro-medular
Lesão que ocorre quase exclusivamente na região cervical, com preservação da sensibilidade sacra e maior debilidade dos membros superiores que nos membros inferiores
Síndrome de Brown-Sequard
Esta lesão é caracterizada por perda ipsilateral da função motora e propriocepção e perda contralateral da sensibilidade para a dor e temperatura
Síndrome de transecção da medular
Abaixo do nível da lesão, o paciente perde a motricidade, a sensibilidade e os reflexos autonômicos (inclusive os esfincterianos)
Síndrome anterior medular
Lesão que produz perda da função motora e da sensibilidade à dor e à temperatura, preservando a propriocepção
Síndrome do cone medular
Lesão da medula sacra (cone) e das raízes lombares dentro do canal, que usualmente resulta em arreflexia de bexiga, intestino
e membros inferiores. Os segmentos sacros poderiam ocasionalmente mostrar reflexos preservados, por exemplo, o bulbocavernoso e os reflexos miccionais.
Síndrome da cauda equina
Lesão das raízes nervosas lombossacras dentro do canal neural resulta em arreflexia de bexiga, intestino e membros inferiores
Tabela 2: Termos usados nas lesões de medula (Figura 1)
Tetraplegia
Descreve diminuição ou perda da função motora e/ou sensitiva dos segmentos cervical devida à lesão dos elementos neurais dentro do canal medular. A tetraplegia resulta em diminuição da função dos membros superiores, tronco, membros inferiores e órgãos pélvicos. Não inclui lesões do plexo braquial ou dos nervos periféricos fora do canal vertebral
Paraplegia
Descreve diminuição ou perda da função motora e/ou sensitiva dos segmentos torácicos, Iombares ou sacrais (porém não cervicais), secundários a danos dos elementos neurais dentro do canal vertebral. A paraplegia deixa íntegros os membros superiores; contudo, dependendo do nível, podem incluir tronco, membros inferiores e órgãos pélvicos. O termo é corretamente usado para descrever lesões da cauda equina e do cone medular, porém não Iesões do plexo lombossacral ou lesões de nervos periféricos fora do canal
Tetraparesia ou paraparesia
O uso desses termos não é recomendado, já que descrevem lesões incompletas de maneira imprecisa. No entanto, a Escala de Avaliação da ASIA oferece um enfoque mais preciso
Dermátomo
Refere-se à área da pele inervada por axônios sensitivos dentro de cada nervo segmentar (raiz)
Miótomo
Refere-se ao grupo de fibras musculares inervadas pelos axônios motores dentro de cada nervo segmentar (raiz)
Nível neurológico
Refere-se ao segmento mais distal da medula espinal com função motora e sensitiva normal em ambos os lados do corpo
Nível sensitivo
Refere-se ao segmento mais distal da medula que tem função sensitiva normal em ambos os lados do corpo
Nível motor
Refere-se ao segmento mais distal da medula que tem função motora normal em ambos os lados do corpo
Nível esquelético
Refere-se ao nível em que, por meio do exame radiológico, se encontra o maior dano vertebral
Índice sensitivo e índice motor
Soma numérica que reflete o grau de deficiência neurológica associado com a lesão medular
Lesão incompleta
Se for encontrada preservação parcial da função sensitiva e/ou motora abaixo do nível neurológico, incluindo o segmento sacral mais baixo, a lesão se define como incompleta. A sensibilidade sacra inclui sensação na região da união cutâneo-mucosa perianal, assim como a sensação anal profunda. A prova da função motora é a presença de contração voluntária do esfíncter anal externo ao exame digital
Lesão completa
Esse termo é usado quando houver ausência da função motora e sensitiva no segmento sacral mais baixo
Zona de preservação parcial (ZPP)
Refere-se àqueles dermátomos e miótomos distais ao nível neurológico que permanecem parcialmente inervados. Quando se encontra alguma alteração da função sensitiva e/ou motora abaixo do segmento normal mais baixo, o número exato desses segmentos deve ser anotado para ambos os lados como ZPP. O termo é usado somente em lesões completas.
Figura 1: Padronização da classificação neurológica da lesão medular.
TRATAMENTO
Avaliação Inicial
Os cuidados com o paciente portador de lesão raquimedular iniciam-se no local do acidente onde se suspeita da presença de fratura da coluna, devendo ser realizados por pessoal paramédico adequadamente treinado para a retirada do indivíduo em bloco do local do acidente. Neste momento, o acidentado deve ser imobilizado, transportado com cuidado e de forma que a coluna esteja em posição neutra como em uma maca rígida. A imobilização cervical é obtida pelo uso de colar, ou então de colchões de areia, e sua cabeça fixada na maca com uso de fita adesiva. Esse procedimento visa evitar a mobilização da região afetada, o que pode causar lesão adicional à medula espinal.
Esses pacientes podem se apresentar no pronto-socorro com lesões associadas, como traumatismo cranioencefálico, torácico e abdominal, além de fraturas de membros superiores e inferiores. São, portanto, admitidos dentro de um protocolo de politraumatizados, onde a prioridade no atendimento é dada aos cuidados ventilatórios, desobstrução de vias aéreas e reposição de volume e/ou estancamento de grandes hemorragias. Na fase da investigação, esses pacientes são submetidos a avaliações da função cardiorrespiratória, abdominal e cerebral.
Pacientes portadores de déficit neurológico são candidatos à realização da ressonância magnética para estudo da lesão medular e eventual deformidade do canal vertebral. Estes devem ser tratados com uma dose inicial de metilprednisolona (30 mg/kg na primeira hora), seguida de 5,4 mg/kg/h em infusão venosa nas próximas 23 horas. A metilprednisolona administrada dentro das primeiras oito horas da lesão parece melhorar a recuperação neurológica desses pacientes, comparada com o placebo, como foi demonstrado pelo estudo de Bracken et al. Atualmente, essa conduta vem sendo revista e hoje é colocada mais como uma sugestão que recomendação pelas principais instituições.
Coluna Cervical
Quando necessária, a intubação deve ser feita por via nasotraqueal, mantendo o alinhamento axial da coluna. O paciente deve permanecer imobilizado para realização da radiografia simples da coluna cervical. Toda coluna deve ser visualizada (de C1 a T1). Esse exame detectará 88% de todas as fraturas cervicais. O restante poderá requerer incidências especiais.
As fraturas mais comumente não visualizadas são as fraturas do odontoide e da transição C7/T1, podendo necessitar de complementação tomografia computadorizada. A redução da deformidade ou da luxação cervical é um ponto crítico. Essas luxações são reduzidas por tração. Após a fixação do halo ou do trator de Gardner no crânio, utilizamos peso equivalente a10% do peso corporal para início do alinhamento. Fazemos acompanhamento radiológico, sequencial ou fluoroscópico de horário até confirmar o realinhamento. Se com esse procedimento observarmos um afastamento dos processos espinhosos, deduzimos que haja também ruptura do sistema ligamentar posterior. Nesses casos há risco de uma tração exagerada, com agravamento neurológico. O exame neurológico também deve ser realizado a cada vez que se colocar mais peso ou se fizer um controle radiológico. Na maioria dos casos, o realinhamento é obtido com 15% do peso corporal. Alguns casos com embricamento de facetas podem requerer até 50% do peso corporal. Se a redução não for obtida, indica-se o procedimento cirúrgico. Como regra geral, não realizamos qualquer manipulação e a maioria das reduções de fraturas é obtida por métodos fechados. Nossa inclinação é realizar o procedimento de estabilização tardiamente, quando o estado geral do indivíduo estiver estabilizado, geralmente após a primeira ou segunda semana da lesão.
Quando se obtém um bom alinhamento com a tração, a complementação do diagnóstico por imagem pode ser realizado posteriormente, quando o estado geral do paciente e o estado neurológico se estabilizarem. Se a tração falha em obter um bom alinhamento, ou se há piora neurológica, a complementação imediata do estudo está indicada. A tomografia computadorizada é realizada em intervalos de 3 mm, o que nos proporciona informações detalhada da lesão óssea da coluna. Reconstruções tridimensionais podem ajudar na análise. A vantagem desee estudo é que ele pode ser realizado com o paciente em tração. A visualização de tecidos não ósseos dentro do canal pode ser feita por meio de sua associação com mielografia. Para a realização da ressonância magnética, o sistema de tração deve ser confeccionado de material compatível. Estudos radiológicos dinâmicos em flexão e extensão podem ser indicados em situações muito específicas. Não se recomenda sua realização em pacientes que apresentem déficit neurológico ou alterações radiológicas graves. Esses pacientes devem ser incluídos no grupo de portadores de fraturas instáveis e submetidos à estabilização da coluna, seja por métodos externos ou internos.
Os cuidados subsequentes são focalizados no sentido de promover a melhor recuperação neurológica possível e permitir a cicatrização das estruturas ligamentares e ósseas da coluna, visando à estabilidade sem dor ou deformidade. Para se obter essa meta, são necessárias descompressão do tecido neural e fixação que proporcione a fusão. Os exames neurorradiológicos serão imprescindíveis para a decisão, visto que com eles se podem detectar compressões residuais em raízes ou na medula por tecido ósseo ou mesmo tecido discal/ligamentar. Essas deformidades podem não se alinhar satisfatoriamente com a tração. Nesses casos, a descompressão do tecido neural e a estabilização da coluna devem ser feitas por método cirúrgico. O retorno de um nível ou dois níveis radiculares abaixo da lesão é muito comum nesses casos e pode ocorrer entre 6 a 8 meses após a lesão, sendo significativo na reabilitação dos pacientes portadores de lesão cervical.
O momento de se realizar a descompressão cirúrgica tem sido extensivamente estudado e discutido. No presente, ainda não existem estudos confirmando que a intervenção cirúrgica precoce tem valor. Mesmo nos pacientes que estão piorando sem que haja evidente compressão ou desalinhamento do canal, a indicação cirúrgica é questionável. A cirurgia precoce tem resultado em piora de alguns pacientes, como foram os casos relatados por Marshall et al. Se houver indicação para cirurgia, em nossa opinião, o procedimento deve ser realizado tardiamente de forma a permitir a estabilização das funções vitais e neurológicas. Isso ocorre geralmente cinco dias ou mais após a lesão. Procedimentos que visem ao tratamento da instabilidade podem ser indicados ainda mais tardiamente.
A instabilidade da coluna pode ser diagnosticada com base no tipo de fratura. Para esta análise, dividimos a coluna cervical em duas partes: a coluna cervical alta, que inclui o occípito, C1 e C2 e a coluna cervical baixa que inclui os segmentos de C3 a C7.
1.Coluna Cervical Alta
As fraturas do côndilo occipital podem ser consequência de uma compressão axial, geralmente associada a traumatismo de crânio. O impacto sobre os côndilos podem levar a uma fratura que é estável e requer apenas um colar cervical. As fraturas em avulsão do ligamento alar e condilares podem estar associados a instabilidade e requerem imobilização em halo-veste ou mesmo fixação cirúrgica occípito-cervical.
Lesões de C1 incluem fraturas isoladas do arco posterior e/ou anterior, como a fratura de Jefferson. O tratamento inicial pode ser feito por tração/redução e fixação em halo-veste. Caso se confirme a associação com ruptura do ligamento transverso, o paciente necessitará de uma fixação posterior C1-C2. Rupturas traumáticas do ligamento transverso resultam em instabilidade atlanto-axial. Em adultos, a distância máxima e normal entre o odontoide e o arco anterior de C1 deve ser igual ou menor que 3 mm. Em criança abaixo dos 12 anos de idade, essa distância pode chegar a 5 mm. Lesões que permitem um distanciamento maior do que este são instáveis e necessitam de fixação e fusão posterior de C1 C2.
As fraturas do odontoide são classificadas em tipos 1, 2 e 3, dependendo da sua localização. As fraturas do tipo 1 são raras e correspondem a avulsões da ponta do odontoide; são tratadas com colar cervical. As fraturas do tipo 2 são as mais comuns e correspondem à lesão na base do odontoide. Podem ser tratadas com tração/redução e fixação em halo-veste. Em nossa experiência, 50% dos pacientes requerem tratamento cirúrgico, sendo 25% feita inicialmente por dificuldades na redução e 25% tardiamente por pseudoartrose. Fatores associados com essa pseudoartrose incluem o espaçamento de mais de 4 mm entre os pólos da fratura, o deslocamento posterior irredutível e idade acima de 50 anos. A alta incidência de cirurgia tem justificado tratamento cirúrgico inicial em todos os pacientes portadores de fraturas do tipo 2. A técnica de escolha, pela simplicidade e baixa complicação, é a fixação e fusão posterior de C1/C2 como idealizada por Gallie e modificada por vários outros autores. Borne et al. indicam a fixação interna no odontoide por meio de parafuso, por abordagem anterior, especialmente quando associadas com a fratura do arco anterior de C1. As fraturas do tipo 3 envolvem o corpo de C2 e evoluem com consolidação com imobilização externa realizada por um colar de Filadélfia.
Lesões de C2/C3 são frequentes. Na sua maioria, ocorrem em hiper-extensão e resultam na fratura da pars inter-articularis de C2. Essas lesões podem ser tratadas com imobilização externa do tipo colar de Filadélfia. Se a força traumática for mais intensa, poderá haver uma ruptura dos ligamentos entre C1/C2/C3, causando uma fratura de Hangman instável. A redução pode ser obtida por meio de uma órtese em extensão por 8 a 12 semanas. Como a fratura leva a uma ampliação do canal vertebral, uma deformidade a esse nível pode ser admitida sem qualquer consequência neurológica.
2.Coluna Cervical Baixa
As fraturas em explosão geralmente resultam de uma compressão no vértex da cabeça associado a forças de flexão. Causam ruptura múltipla do corpo vertebral, e eventualmente retropulsão óssea para dentro do canal. Essas lesões geralmente se associam a lesões do ligamento longitudinal posterior e a fraturas de lâminas e facetas. Se a descompressão neural é mantida e não existe instabilidade posterior, a maioria das fraturas irá se consolidar com sucesso apenas com o halo-veste ou colar. Se houver apenas explosão com projeção óssea dentro do canal, a abordagem será apenas anterior, com corpectomia e interposição de enxerto. Se houver associação com ruptura grave do sistema ligamentar posterior, deveremos associar um segundo tempo para realizar o reforço do sistema ligamentar por via posterior. Nossa preferência é utilizar amarrilhas e associar enxerto ósseo.
As fraturas e luxações facetárias geralmente ocorrem por movimento de flexão/translação. Esse embricamento facetário pode ser unilateral em 25% dos casos, e bilateral em 50% dos casos. As lesões bilaterais geralmente podem ser reduzidas com tração; podem requerer um reforço cirúrgico do sistema ligamentar posterior. Isto também pode ser obtido com amarrilha e utilização de enxerto. Para os pacientes que se apresentam sem déficit neurológico, a tração/redução fechada pode ser traumática e arriscada. Pode resultar na compressão medular/radicular por fragmento discal. Por esse motivo, prefira uma abordagem inicial anterior com microdiscectomia, preparo da superfície da vértebra para fusão e, num segundo tempo, uma abordagem posterior com redução e fixação por amarilha e também utilização de enxertos. Esse procedimento por estar indicado em pacientes que apresentem déficit parcial ou total nas primeiras horas do trauma. Nos embricamentos unilaterais, há controvérsia quanto à indicação do procedimento cirúrgico. A maioria dos autores considera essa lesão estável. Realizamos a redução posterior e fixação pela técnica já descrita quando há comprometimento radicular.
As fraturas em extensão da coluna cervical ocorrem em indivíduos mais idosos, que apresentam canal estreito adquirido ou congênito. Geralmente se apresentam com quadro de lesão centro-medular. A medula é comprimida entre o osteófito anterior e o ligamento flavo posterior, que se dobra e aumenta de volume no momento da hiperextensão. Raramente ocorrem fraturas. A recuperação neurológica é muito boa neste grupo. Recomenda-se eventualmente a imobilização externa ou uma tração suave por 5 ou 10 dias, seguida de imobilização e colar de Filadélfia por quatro semanas. O tratamento cirúrgico para a descompressão do canal pode ser necessário em metade dos casos e pode ser e não deve ser realizado na fase aguda.
Tratamento Clínico
O tratamento conservador das fraturas da coluna requer imobilização da cabeça e da região cervical até que os tecidos e os ossos tenham cicatrizado. O uso de halo-veste quando comparado com outros cinco colares cervicais demonstrou proporcionar grande estabilidade, principalmente na região cervical alta. Fraturas instáveis, como as do tipo 2 do odontoide, requerem a imobilização em halo-veste. Os outros tipos de lesões podem cicatrizar apenas com uma imobilização em colar do tipo Filadélfia. A aplicação do halo é feita sob anestesia local e a colocação de pinos é feita sobre os pilares cranianos, abaixo de uma linha do maior diâmetro do crânio. Existem complicações com a penetração dos pinos através da tábua óssea, causando lesão dural, cerebral e fístula liquórica. A complicação mais comum é a infecção ao redor dos pinos que requer a sua troca de posição. A compressão torácica pode reduzir a função pulmonar e ser um fator limitante para o seu uso naqueles pacientes que apresentam baixa ventilação ou lesões pulmonares associadas. O processo de reabilitação pode ser lentificado devido ao uso de órtese externa, levando a aumento do período de hospitalização e do custo. Apesar dessas considerações, o sistema é eficiente e provém uma estabilização adequada para o tratamento conservador da maioria das lesões da coluna cervical.
Tratamento Cirúrgico
Deve-se indicar a fusão cirúrgica quando há necessidade de descompressão da medula e das raízes ou quando o sistema externo de imobilização não proporciona a fusão ou estabilização necessária. A integridade da função neurológica deve ser mantida durante o procedimento cirúrgico. O paciente deve ser intubado acordado, por via nasotraqueal, por um anestesista experiente. Isto deve permitir o exame neurológico após a intubação e o posicionamento do paciente. Nos casos eletivos, a tração geralmente é colocada após o posicionamento. Utilizamos o estudo radiológico da coluna cervical, no posicionamento (pré-operatório), na localização da vértebra comprometida (per-operatório) e depois como controle após a realização do procedimento (pós-operatório). O uso de potenciais evocados sômato-sensitivo per-operatórios podem ser feitos naqueles pacientes que têm alguma função residual e tenham um exame semelhante realizado no pré-operatório. O exame visa à monitoração da função neurológica durante a realização do procedimento cirúrgico.
A técnica cirúrgica é definida a partir do nível e do tipo da lesão, das condições locais e da habilidade do cirurgião. Na região cervical alta, a maioria das lesões cicatriza sem cirurgia. As fraturas do tipo 2 do odontoide apresentam riscos de pseudoartrose e não redução. Várias técnicas já foram descritas, neste caso a nossa opção é utilizar uma amarrilha sublaminar passando por debaixo do arco de C1, fixando no processo espinhoso de C2. As lâminas lateralmente são preparadas antes da aplicação de enxerto retirado do ilíaco. Evitamos a exposição do occipital e dos demais processos espinhosos abaixo do nível de C1/C2. Essa técnica foi inicialmente descrita por Gallie modificada por Brooks e posteriormente por Sontag. Existem opções de fixação de C1/C2 por meio de parafusos pediculares e também por via anterior a fixação do odontoide por parafuso, que evita a perda parcial do movimento de rotação que ocorre frequentemente com as fixações posteriores.
Na coluna cervical, a abordagem pode ser anterior ou posterior, dependendo do tipo de lesão. Nas lesões por explosão do corpo vertebral, podemos utilizar técnicas clássicas descritas por Cloward ou Smith-Robinson, e mais recentemente associadas a placas, com a técnica de Caspar. Do sistema inicial de Caspar aos sistemas atuais de placas, houve uma grande evolução. Hoje, esses sistemas são constituídos de placa e parafuso de titânio, que permitem controle com ressonância magnética no pós-operatório. Esses parafusos são unicorticais, a placa é moldável, os parafusos apresentam angulação em divergência ou convergência que permite, junto com o sistema autobloqueante, a formação de um bloco e reduz o risco de saída da placa ou o escape de parafusos. Utilizam para isto quatro parafusos, com opção de um quinto ou sexto parafuso para fixação do enxerto. Existem vários sistemas que se enquadram dentro dessas características. Utilizo enxertos autólogos na maioria dos casos. Em condições de dificuldades, opto por material obtido em banco de osso.
Abordagem posterior é apropriada quando a instabilidade inclui o sistema ligamentar posterior. Isso pode ser observado no estudo radiológico simples, tomografia computadorizada ou ressonância magnética, avaliando-se afastamento dos processos espinhosos e ruptura dos ligamentos. Existe uma variedade de técnicas; entre as opções destaca-se uso de placas metálicas pediculares nos casos em que existem fraturas das lâminas. Em termos gerais, a fixação em curto prazo é obtida por instrumentação, mas a manutenção dessa instabilidade a longo prazo depende da fusão óssea. Isso requer um trabalho cuidadoso no preparo do local receptor, no preparo do enxerto e na sua aplicação local.
Coluna Tóraco-lombar
Referente às fraturas da coluna tóraco-lombar, ocorrem no Brasil, a cada ano, mais de 10 mil casos de fraturas da coluna torácica, lombar e sacra, estando metade associada a déficit neurológico. Apesar desse grande número de casos, seu tratamento não está padronizado.
A unidade básica da coluna lombar consiste de duas vértebras intactas e um disco intervertebral, duas articulações posteriores e seus ligamentos. Vários trabalhos têm analisado a aplicação de vetores que levam à instabilidade. Mais de 50% das fraturas se localizam entre T11/L2, sendo a maioria entre T12/L1. Isso ocorre devido à modificação abrupta da anatomia entre um segmento rígido (dorsal) e um excessivamente móvel (lombar). O diâmetro e a altura do corpo vertebral aumentam à medida que aproxima do sacro, o que torna a coluna progressivamente mais resistente. Isso explica também porque a maioria das fraturas dessa região ocorre na porção mais alta da coluna lombar. As facetas articulares dessa região estão orientadas em um plano sagital, não suportam peso, mas resistem aos movimentos de rotação.
As fraturas da coluna sacral são raras e geralmente associadas a lesões na pevis. Os traumas podem ser divididos em diretos ou indiretos. Nos traumas diretos ocorrem mais fraturas do que luxações, com maior incidência de déficit neurológico. Nos traumas indiretos, como na queda de altura em posição sentada com flexão aguda, ocorrem mais luxações que fraturas. O termo instabilidade é aplicado quando existem fragmentos ósseos móveis que colocam em risco a estrutura neural durante o período de cicatrização. Estabilidade significa uma relação sem risco entre a coluna e o seu conteúdo. A instabilidade aguda ocorre se a função neurológica está em risco nos primeiros dias da lesão e a crônica pode ocorrer ao longo de meses ou anos. O trauma aplicado à coluna pode ser angular (flexão, extensão, inclinação lateral e torção com inclinação) ou não angular (compressão, distração, rotação).
A maioria dos pacientes portadores de fratura da coluna tóraco-lombar é jovem do sexo masculino. Na coluna tóraco-lombar, a medula, o cone medular e a cauda equina ocupam o canal, e a presença de todos esses elementos explica a variação do quadro clínico encontrado nesses pacientes e também as dificuldades quanto ao seu prognóstico. No adulto, a medula termina ao nível do corpo vertebral de L1/L2 e a cauda equina se inicia em T12, o que contribui para um quadro clínico misto de lesão de primeiro e segundo neurônio com maior potencial de recuperação do que as da região cervical. A avaliação deve incluir um exame das extremidades inferiores para sensibilidade, força muscular, reflexos profundos e reflexo cremasteriano e anal. A inspeção da coluna tóraco-lombar e sacra pode demonstrar escoriações e até a gibosidade com afastamento das apófises espinosas que caracterizam a instabilidade. Todos os sinais, sejam positivos ou negativos, devem ser anotados. A função do neurocirurgião junto à equipe de atendimento na admissão é realizar um exame neurológico detalhado. O déficit do paciente deve ser graduado segundo a escala ASIA/Frankel logo no primeiro momento (Tabela 3). Essa classificação permitirá estudos comparativos posteriores que inclusive nortearão o tratamento a ser proposto. Devemos lembrar, no entanto, que a Escala de Frankel não considera a associação de lesão do primeiro e segundo neurônio que ocorre no trauma da transição tóraco-lombar.
Tabela 3: Escala de Avaliação ASIA/Frankel (Gravidade das lesões medulares)
A
Lesão completa
Nenhuma função motora ou sensorial está preservada abaixo do nível da lesão e nos segmentos sacrais de S4/S5
B
Lesão incompleta
Sensibilidade preservada mas sem função motora, inclusive nos segmentos sacrais de S4/S5
C
Lesão incompleta
Preservação da função motora abaixo da lesão com a maioria dos músculos principais graduados em menos de 3
D
Lesão incompleta
Preservação da função motora abaixo da lesão com a maioria dos músculos principais graduados em mais de 3
E
Normal
Sem déficit neurológico. Função motora e sensorial normal
O paciente deve ser submetido a estudo radiológico simples da coluna e acompanhado pelo cirurgião em seu transporte, para que não haja agravamento da lesão devido a mobilizações inadequadas. A princípio, a decisão para o tratamento cirúrgico deverá ser adiada até que o paciente tenha condições orgânicas estáveis.
Tem-se sugerido que a maioria das cirurgias seja realizada ao longo da primeira ou segunda semana após o acidente, e raramente isso é necessário em circunstâncias emergenciais. Isso permite que o paciente se submeta a uma avaliação detalhada, que deverá incluir, além do estudo radiológico simples, o estudo tomográfico computadorizado e, eventualmente, a ressonância magnética da coluna. A presença de lesão dentro do canal ou de uma rotura ligamentar pode ser mais bem avaliada na ressonância magnética do que na tomografia computadorizada ou no raio-X simples. Neste momento, o paciente poderá ter se recuperado do politraumatismo. Passada a fase aguda, ele e a família terão sido preparados para os objetivos da cirurgia e as possibilidades de retorno ou não da função neurológica perdida. Da mesma forma, os exames eletrofisiológicos são utilizados quando o quadro clínico do paciente deixa alguma dúvida quanto à função ou se há uma lesão parcial que queremos documentar para posterior comparação, ou se há dúvida se a lesão é completa ou incompleta. Esses exames são realizados em bases individuais. O uso transoperatório dos potenciais evocados pode ajudar também na monitoração da função neural durante a realização do procedimento cirúrgico.
Tratamento Conservador Versus Cirúrgico
O tratamento das fraturas da região tóraco-lombar e sacral pode ser conservador e/ou cirúrgico. O conhecimento da biomecânica da coluna, da causa da lesão da coluna associada à presença de déficit neurológico, avaliação radiológica e experiência do cirurgião em realizar o procedimento são fatores que determinam a abordagem terapêutica.
Embora tenham havido relatos de sucesso com o tratamento conservador, a falta de alinhamento da coluna, a presença de compressão persistente do sistema nervoso, associados a longo período de hospitalização, tem indicado o tratamento cirúrgico. Mesmo sem confirmar uma diferença quanto à recuperação neurológica, os pacientes não-instrumentados tendem a angular progressivamente a coluna nos meses seguintes à fratura, embora a observação de dor local e problemas de pele tenha sido igual, tanto nos grupos tratados cirurgicamente quanto clinicamente. Um dado é certo: o paciente tratado cirurgicamente tem reduzido significativamente o período de hospitalização e o período de reabilitação, embora não haja diferença quanto aos resultados obtidos em termos de recuperação neurológica.Apesar dessa falta de consenso com relação ao tratamento cirúrgico ou clínico desses pacientes, aqueles que apresentam fraturas estáveis e sem déficit neurológico devem ser tratados conservadoramente. Aqueles com déficit neurológico, com deformidades em angulações com mais de 30º, que apresentam partes ósseas dentro do canal com redução de mais de 50% deste, devem ser submetidos a tratamento cirúrgico que deverá incluir a descompressão, o alinhamento, a estabilização e o preparo para fusão.
Tratamento Conservador
Quando indicado, o tratamento conservador deve incluir repouso em leito por 7 a 10 dias com uso de analgésicos e relaxantes musculares não opiódes. Quando melhorar a dor, o paciente poderá sentar e caminhar utilizando um colete por 3 ou 6 meses. Eventualmente, em fraturas complexas, o paciente poderá ser mantido no leito por um período de semanas até que se sinta com segurança para iniciar a mobilização. O acompanhamento radiológico será feito a cada dois meses e após a retirada do colete em base anual para avaliação do alinhamento da coluna. A presença de cifose progressiva, dor intensa na região e déficit neurológico progressivo pode indicar instabilidade tardia.
Tratamento Cirúrgico
Os princípios gerais do tratamento cirúrgico do paciente com TRM seguem quatro objetivos básicos: 1) descompressão do sistema nervoso, medula e raízes; 2) alinhamento da coluna vertebral para permitir estabilização; 3) estabilização da coluna vertebral para permitir o apoio do paciente e reduzir a deformidade; 4) início da reabilitação, o mais precocemente possível.
As opções do cirurgião incluem: 1) abordagem anterior com vertebrectomia e enxerto do ilíaco, com ou sem instrumentação; 2) instrumentação posterior e fusão com ou sem procedimento para descompressão; 3) uma combinação dessas (1 e 2) duas opções realizadas em um só tempo ou separadas por alguns dias; 4) uma fenestração posterior para retirada de material de dentro do canal. Apesar de muitas opções, a instrumentação posterior e fusão associada à descompressão é um procedimento seguro eficiente, relativamente mais econômico em agressão e tempo, e ideal para o tratamento dessas fraturas, principalmente quando a abordagem cirúrgica ocorre após a primeira semana da lesão (o que é mais frequente). Neste momento, o alinhamento da coluna não permite a ampliação do canal. De acordo com o tipo de fratura (classificação de Gertzbein, que classifica as fraturas em tipos A, B e C), existem as seguintes opções cirúrgicas:
tipo A – causada por compressão do corpo vertebral: tratamento conservador; fenestração para descompressão do canal estável; descompressão de fixação; fusão posterior quando instável;
tipo B – que é causada por tração da estrutura posterior, elementos posteriores ou ambos:tratamento conservador; só fusão; só fixação; fixação/fusão posterior em pacientes sem déficit e associada a descompressão nos casos de déficit;
tipo C – que é a ruptura da estrutura anterior, posterior, com evidência de rotação:descompressão póstero-lateral (bilateral) associada a fixação e fusão.
TÓPICOS IMPORTANTES
As fraturas da coluna vertebral são diagnósticos frequentes na maioria dos serviços de emergência. Ocorrem aproximadamente 60 a 70 casos para cada 100 mil habitantes por ano, e 10% desses pacientes apresentam déficit neurológico.
O mecanismo dessas lesões em sua maioria é a fratura ou a fratura e luxação.
Metade das lesões ocorre na coluna cervical, um sexto na região torácica e um terço na região lombossacra.
O trauma é a causa mais comum da síndrome de transecção da medula espinal.
Uma hemissecção da medula (síndrome de Brown-Sequard) é rara e normalmente associada à lesão penetrante por projétil ou faca.
O paciente acidentado com suspeita de fratura de coluna e lesão raquimedular deve ser imobilizado e transportado com cuidado e de forma que a coluna esteja em posição neutra como em uma maca rígida.
A imobilização cervical é obtida pelo uso de colar, ou então de colchões de areia, com a cabeça fixada na maca com fita adesiva.
Os pacientes com suspeita de fratura de coluna podem se apresentar no pronto-socorro com lesões associadas, como traumatismo cranioencefálico, torácico e abdominal, além de fraturas de membros superiores e inferiores. A prioridade no atendimento é dada aos cuidados ventilatórios, desobstrução de vias aéreas e reposição de volume e/ou estancamento de grandes hemorragias, mas não deve ser negligenciada a proteção da coluna até que tenha sido afastada lesão desta.
Apesar da falta de consenso quanto ao tratamento cirúrgico ou clínico de muitos pacientes com trauma de coluna tóraco-lombar, sabe-se que aqueles que apresentam fraturas estáveis e sem déficit neurológico devem ser tratados conservadoramente, e aqueles com deformidades em angulações com mais de 30º, que apresentam partes ósseas dentro do canal com redução de mais de 50% deste, devem ser submetidos a tratamento cirúrgico que deverá incluir descompressão, alinhamento, estabilização e preparo para fusão.
Os princípios gerais do tratamento cirúrgico do paciente com TRM são: 1) descompressão do sistema nervoso, medula e raízes; 2) alinhamento da coluna vertebral para permitir estabilização; 3) estabilização da coluna vertebral para permitir o apoio do paciente e reduzir a deformidade; 4) início da reabilitação, o mais precocemente possível.
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5.Magerl F, Harms J, Gertzbein SD, et al. A new classification of spinal fractures. Presented at the Societe Internationale Orhipedie et Traumatologie Meeting, Montreal. Canada, September 9, 1990.
6.Puertas EB, Chagas JC, Mercurio R, Milani A. Fraturas da coluna vertebral na região toracolombar: estudo de 36 pacientes. Rev Bras Ortop. 1991;26:196-200.
·Déficit motor e da propriocepção ipsilateral à lesão, e perda da sensibilidade térmica e dolorosa contra-lateral
·Bom prognóstico
Síndrome Medular Anterior
·Lesões por hiperflexão
·Perda motora completa e perda da discriminação à dor e temperatura abaixo do nível de lesão
·O prognóstico é bom se a recuperação for evidente e progressiva nas primeiras 24 horas
Síndrome Medular Posterior
·Envolve as colunas dorsais, perda da sensibilidade vibratória e de propriocepção
·Outras funções motoras e sensitivas estão normais
·Lesão rara, geralmente associada a traumas em extensão
Síndrome do Cone Medular
·Lesão do cone medular
·Arreflexia de bexiga, intestino e MMII
·Segmentos sacrais preservados
·Prognóstico variável
Síndrome da Cauda Eqüina
·Lesão entre o cone medular e as raízes lombosacras
·Arreflexia da bexiga, intestino e MMII
·Anestesia em sela, arreflexia do bulbocavernoso
FISIOTERAPIA APÓS TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR
·A Fisioterapia torna-se relevante para o lesado
raquimedular desde a fase de hospitalização, com seguimento após a alta
hospitalar, para melhorar as condições físicas, prevenir deformidades e promover
a independência funcional dos pacientes.
·O exercício físico promove efeitos fisiológicos
benéficos com o aumento do fluxo sanguíneo, a melhor distribuição do oxigênio
na interface célula-capilar e gera mudanças significativas no sistema
cardiovascular pelo aprimoramento do sistema de transporte, da extração e da
utilização do oxigênio, enquanto que no sistema respiratório melhora a função
pulmonar com o aumento do volume corrente, da capacidade pulmonar e da
capacidade de difusão. Benefícios psicológicos também ocorrem e promovem
sensação de bem-estar, melhoram a auto estima e a qualidade de vida.
·O ponto principal na recuperação do paciente com
traumatismo raquimedular não está na aplicabilidade e acesso a tecnologias
sofisticadas. A meta é realizar-se a prevenção das possíveis complicações, que
pode ser feita através de medidas simples. Quando se têm pacientes orientados
adequadamente desde o momento pós-trauma, que acabam evoluindo sem obter
consequências evitáveis, a funcionalidade, e em decorrência a qualidade de
vida, torna-se maior, dentro é claro dos limites impostos pela lesão.
Compartilhei esses vídeos que encontrei no Youtube, pois, achei um excelente exemplo de uma sessão de fisioterapia em paciente com Trauma Raquimedular. O trabalho da Fisioterapia Neurológica é de extrema importância para o paciente que sofreu um traumatismo desse nível, tem a função de reabilitar e proporcionar de volta a independência do paciente. O fisioterapeuta irá aplicar exercícios que terão como objetivo devolver os movimentos, fortalecer os músculos para beneficiar a parte motora e a qualidade de vida do paciente que sofreu a lesão.